Somente assim o rastreador terá condições de detectar as evidências geradas pela passagem de alguém (ou de alguma coisa).
Quando uma pessoa, ou animal, movimentam-se em algum ambiente natural de mata/floresta/selva, invariavelmente deixará sinais indicadores de que algo passou pela área.
É bem verdade, que o tipo de terreno vai influenciar diretamente na qualidade, e quantidade, de sinais que ficarão registrados. Podendo tornar mais simples, ou mais complexa, a função do rastreador de encontrar estes vestígios (assunto que será melhor abordado em outra coluna).
O raciocínio também se aplica para ambientes urbanos. Ocorre que, nas cidades, as distrações, luzes, barulhos, superfícies rígidas (como asfalto e calçadas) dificultam bastante a detecção das evidências (rastros).
De toda forma, para ser capaz de enxergar/sentir/ouvir/cheirar/intuir onde estão estes vestígios, o rastreador terá, em primeiro lugar, que conhecer como é o PADRÃO das coisas e objetos, do terreno onde a missão foi deflagrada.
Somente quem tem noção de qual é este padrão, estará habilitado a identificar quando algo está FORA DO PADRÃO.
Exemplificando: em ambiente urbano, se a pessoa está andando em um supermercado, no setor de biscoitos, e verifica que junto dos biscoitos está uma embalagem contendo carne congelada, imediatamente notará que algo está “fora do lugar.”
Uma situação bastante esclarecedora a esse respeito, ocorreu no atentado terrorista executado em abril de 2013, na famosa Maratona de Boston, no Estado de Massachusetts, nos Estados Unidos da América. Uma das evidências que levaram as autoridades a identificar os dois suspeitos, foi o fato de que, ao analisar as imagens após as explosões, desconfiaram de duas pessoas (os irmãos Tsarnaev) que, ao contrário da população que corria assustada, estavam caminhando, aparentando uma calma perturbadora. Ou seja, esta tranquilidade, naquele momento, estava “fora de contexto”, o que despertou a atenção das autoridades, e as levou a aprofundar as investigações sobre estes suspeitos. Que, ao final, foram realmente considerados os responsáveis pelo atentado.
Irmãos Tsarnaev caminhando após a explosão
Dzhokhar Tsarnaev, de 21 anos, foi condenado à morte com injeção letal na tarde de sexta-feira (15/05/15) por sua participação nos atentados terroristas na maratona de Boston.
Os irmãos Tsarnaev foram identificados como autores dos ataques dias depois da corrida graças a gravações das câmeras de segurança.
O irmão mais velho de Dzhokhar, Tamerlan Tsarnaev, de 26 anos, foi morto pela polícia depois de matar o policial Sean Collier quando tentavam fugir de Boston. Após uma longa perseguição, Dzhokhar, na época com 19 anos, foi capturado horas mais tarde, gravemente ferido.
Rastreamento eficaz
Em áreas remotas, onde exista cobertura vegetal e animais (flora e fauna), as “coisas” também seguem um padrão natural. Mas somente quem conhece este padrão, saberá quando algo está “errado”, ou “fora do lugar.” Como animais que ficam agitados e emitindo sons, ou em silêncio total. Ou como a vegetação que fica entrelaçada, ou com folhas viradas, que podem significar que algo passou por ali.
Formigas agitadas depois de seu ninho ser pisado.
Quando se faz referência a áreas naturais, significa todo e qualquer ambiente no qual exista vegetação. Independentemente de se tratar de um local distante, na floresta, ou em um parque municipal com amplas áreas verdes.
Perseguições urbanas, podem rapidamente evoluir para uma incursão em densas matas, existentes no perímetro da cidade.
Daí a importância de ter equipes treinadas, e especialmente familiarizadas com áreas naturais. Para que consigam identificar estas pequenas evidências, reveladoras, por exemplo, de que o foragido passou pelo local.
Duas destas “verdades” se encaixam bem neste contexto do rastreamento, são elas:
1) Humanos, pessoas, são mais importantes que equipamentos (Humans are more important than hardware);
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4) Operadores capacitados não podem ser criados após as emergências acontecerem (Competent Special Operations Forces cannot be created after emergencies).
Em outras palavras, pessoas são muito mais valiosas que equipamentos e tecnologias. Não que se deva rejeitar estes artefatos, certamente são muito importantes. Mas que ninguém se engane, a preparação do Operador/pessoa, é sem dúvida, o fator decisivo para o êxito da missão.
Até porque, equipamentos sofisticados podem não estar disponíveis, ou apresentarem defeitos. Esta é exatamente a situação atual do SISVANT - Sistema de Veículos Aéreos não Tripulados da Polícia Federal, que é composto por duas aeronaves não tripuladas, adquiridas em 2012 (pelo preço de US$ 13,43 milhões) da fabricante israelense Israel Aerospace Industries (IAI). Ocorre que, por problemas técnicos e de gestão, estes dois VANTS/DRONES “...estão montados em cima de cavaletes dentro do hangar de São Miguel do Iguaçu. Todos os equipamentos eletrônicos foram retirados e encaixotados. Tanto as aeronaves como os componentes eletrônicos estão sem manutenção desde agosto de 2016...” É o que relata o jornal Correio Brasiliense (postagem de 16/02/2017 - link abaixo). Em outras palavras, isso significa que estas máquinas estão fora de ação.
Ainda seguindo estas “5 Verdades”, leva tempo a preparação de Operadores bem treinados (pouco importa o ramo de atuação: Busca e Salvamento, missões Policiais e Militares, Bombeiros, Defesa Civil, SAMU e outros), e capacitados para o trabalho em equipe. Isto não é algo que se consegue mobilizar em um curto espaço de tempo.
Nestes cenários, as técnicas de RASTREAMENTO HUMANO podem ser o fator decisivo para o êxito da missão.
O conhecimento destas técnicas é uma VANTAGEM HUMANA, que somente os iniciados na Arte-Ciência do Rastreamento podem se valer.
Mesmo nos tempos modernos, em que a tecnologia vem sendo aperfeiçoada em uma velocidade vertiginosa, as técnicas ancestrais de rastreamento continuam a ser de fundamental relevância. E pode fazer a diferença para a finalização bem sucedida de uma missão.
Aqueles que atuam em Operações de Busca e Salvamento em áreas remotas, em missões policiais e militares que de alguma forma demandem o ingresso em região de selva/floresta/mata, e mesmo para a caça (quando permitida pela lei) e observação de animais, podem (por meio do estudo e treino de campo) agregar estes conhecimentos às suas competências, de modo a estarem mais capacitados quando estiverem em ação, realizando estas suas atividades.
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