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Porque se escolhe ser policial e trabalhar no canil?

Para a maioria dos meninos, ser militar, aventureiro ou policial já faz parte das brincadeiras de infância. Foi assim comigo e creio que com a maioria dos adultos que hoje gostam da vida militar e gostam da ordem das coisas.

Passávamos horas construindo armas e travando batalhas em nossas mentes, transpondo córregos e adentrando em matas. Até hoje um dos esportes que mais cresce no Brasil o Airsoft tem essa temática.

 Isso me levou ao Exército Brasileiro e após a PMSC onde fiquei por muitos anos. Lá despertei a vontade de produzir equipamentos para suprir as minhas necessidades. Nasceu dessa necessidade a Warfare e sempre que posso, gosto de estar junto a tropa para saber como os equipamentos estão desempenhando seu papel e como inovar.

 Em uma dessas visitas a alguns meses atrás, fomos até Jaraguá do Sul, uma cidade distante a 65 km de Blumenau para encontrar com o grupo do 14º Batalhão de Policia Militar responsável pelo policiamento com cães.  A nossa visita tinha como objetivo principal, conhecer o canil e saber das necessidades de equipamentos, como operam e como podemos melhorar ou desenvolver novos modelos para atender a essa modalidade de policiamento.

 Ao chegar ao local conhecemos a Soldado Policial Militar feminina (SD Pm Fem) Luize, que conduzia seu cão com vontade e foco e fiquei pensando.

 É fácil para mim saber o por que eu faço isso ou porque sou apaixonado por fazer o que faço, mas e  ela? Por que faz isso? Por que escolheu trabalhar na Polícia e com cães? Então resolvemos perguntar a ela e as respostas você terá nas próximas linhas.

Vamos deixar que ela se apresente.

 “Bom, me Chamo Luize Sauer Ribeiro.  Sou uma pessoa muito apegada a família, apesar da distância que nos separa pois minha família é do Rio Grande do Sul.

É sempre muito difícil falar sobre nós mesmos mas eu me considero uma pessoa dedicada e determinada em tudo que me proponho a fazer, sou muito exigente comigo e não gosto de deixar nada pela metade. Posso dizer até que sou perfeccionista. Sempre busco o "algo a mais", sempre acho que dá para melhorar. Também sou apaixonada pela minha profissão. O que faz de mim uma pessoa feliz e realizada, pois tenho apoio de minha família, amigos e ainda tenho um trabalho que eu gosto”.

Viu a diferença? “ Sou apaixonada pela minha profissão”.  Isso faz toda a diferença. Pessoas que gostam do que fazem produzem bem, mas pessoas apaixonadas produzem mais do que o necessário para ser bom. É de pessoas apaixonadas pelo que fazem que o mundo precisa. De pessoas que queiram atender bem, que queiram produzir bem, que saibam que o serviço ou o produto que fazem será utilizado por alguém.

Sempre difundi essa ideia na Warfare desde sua fundação. Não produzimos moda e sim produtos para essas pessoas apaixonadas. Tão apaixonadas que abdicam da sua própria família para cuidar de outras que nem conhecem e nunca irão lhe agradecer. Tão apaixonadas que arriscam a própria segurança, a própria vida para que outros possam ter um minuto a mais de sossego ou até a viver.

 Antes de ser policial, Luize era atleta de futsal e  morava em Osasco/SP. Com muito esforço conseguiu comprar uma moto para se locomover diz ela. “Depois de ter pago a última prestação, minha moto foi furtada. “

Isso a deixou extremamente triste e com a sensação de impotência. “Me senti inútil e que  não poderia fazer nada pra mudar isso.” Alega ela relembrando do ocorrido.

Nessa época abriu o edital para o concurso da PMSC, que foi aí que ela pensou. “ Posso me  tornar policial e fazer algo por  pessoas que assim como eu, sofreram algum tipo de dano, físico ou material, devido a criminalidade.”

Acredito que muitas histórias semelhantes a essa, podem ser encontradas nas fileiras de todas as Policiais militares do Brasil e em muitas profissões. Pessoas que se tornaram médicos oncologistas pois perderam alguém para o câncer e muitos outros exemplos. Pessoas com o desejo real de fazer alguma coisa.

“Depois que se entra na polícia, a visão de tudo muda um pouco, inclusive a visão da própria polícia. A mídia e a falta de conhecimento de como é uma instituição militar assusta as pessoas e isso faz com que falem sem conhecimento de causa, pelo senso comum. O que mais me surpreendeu realmente foi ver que a polícia não é nada disso. Eu mesma tinha uma visão diferente da polícia. Hoje sei que na PM, as pessoas buscam sempre se aperfeiçoar para melhorar o atendimento da população em todos os tipos de ocorrências.”

Luize tem razão. A polícia como instituição não muda caráter. Isso vem de berço, vem da formação. Como seria bom se apenas os bons de caráter fossem, policiais, médicos, juízes e até cidadãos não é?  Geralmente julgamos as instituições pela nossa causa, ou seja, se me ajudou é bom, se me multou não presta.

Quando roubaram minha moto depois ter pago a última prestação e com muito esforço, senti que deveria fazer alguma coisa por mim e por todos os outros que não podem.

A relação entre policial e cão policial, é de muita amizade e companheirismo, como de qualquer outro cachorro com seu tutor. Só que ele é um cão de trabalho, que te acompanha nas mais diferentes situações e está sempre ao seu lado, o que faz o sentimento ser mais forte ainda, pois a minha vida pode estar nas "patas" dele.

Amizade e compromisso

Após se formar, Luize foi trabalhar no canil do 14º BPM em Jaraguá do Sul.

“Sempre gostei de animais, porém gostar de animais é muito diferente de trabalhar com um cão. Quando comecei a participar dos treinos do Canil na minha unidade, me impressionou o quanto o trabalho com cães pode ajudar no combate ao crime. Eles são uma ferramenta incrível, que se entregam ao trabalho e estão sempre prontos para qualquer missão que forem treinados a fazer. Então, quando você tem a oportunidade de trabalhar ao lado de um companheiro que está disposto a dar a vida por você, se necessário for, e conta com 100% da sua dedicação, não tem como não escolher o Canil.”

Acredito que é o sonho de todo mundo. Trabalhar ao lado de pessoas dedicadas e ser reconhecido por isso. Luize encontrou essa dedicação com um cão policial e sua equipe.

Ela conta que passou por um estágio antes de ingressar definitivamente ao canil.

 “No curso de formação de soldados eu já acompanhava os integrantes do canil. Depois da formação, comecei a acompanhar mais de perto os treinos até que surgiu a oportunidade de ficar com um filhote. Isso também foi um teste, pois eu trabalhava em outra área e na folga ainda tinha que acompanhar o treinamento, então foi bastante trabalhoso e exigiu muita dedicação. Foram 7 meses até que fui efetivada de fato no Canil. Mas valeu cada minuto”.

 Entenda que ser policial é ter dedicação 24 horas por dia, ou seja, se doar. A maioria não fica 5 minutos a mais no trabalho além de seu horário e na segunda já quer que seja sexta feira. Luize no entanto levou um filhote pra casa para criar e foi muito além de 5 minutos a mais. Essa é a diferença de pessoas que fazem e tem muito amor pelo que fazem. A maioria dos policiais tem depoimentos ou treinamentos a mais em seus horários de folga, e nunca são remunerados por isso, porém não deixam de fazer. Você sabia que a maioria dos equipamentos de uso pessoal do policial são adquiridos por ele mesmo e não pelo Estado?

É amigo, na sua empresa se não tiver a ferramenta para o seu trabalho você muito provavelmente irá cruzar os braços e não fazer nada. Já o policial, coloca a mão na carteira e compra seu equipamento. Isso tem um custo pessoal elevado. Além das horas de dedicação em serviço, investe o que ganhou em equipamentos e treinamentos para melhorar seu desempenho e poder voltar para casa em segurança.

Para Luize, o canil significa a realização de um grande desejo que tinha depois da conclusão do curso de formação. “Cada dia que passa eu vejo que escolhi a área certa para trabalhar, onde encontrei amigos que vou levar para a vida toda, onde aprendi muito sobre cães e principalmente cães de polícia e não me vejo em outro lugar trabalhando. Se tudo correr bem, pretendo permanecer muito tempo no Canil da PM”, conta luize.

Nós esperamos que você fique muito tempo também Luize e que não só o canil mas toda a polícia esteja repletas de Luizes. Na verdade todas as profissões.

Quando estou de folga ou entro no período de férias, o cão vai para casa comigo, então ele tem vida de cão de trabalho mas na sua folga também tem vida de cachorro, o que, na minha opinião, permite que ele, quando tenha que entrar em situação de trabalho, trabalhe com uma mente bem mais tranquila, pois ele também merece descansar fora do canil, possibilitando que ele realize seu trabalho de forma mais tranquila e feliz, aumentando a chance de se obter sucesso na missão”.

Os cães policiais não são Pets, ou seja, cães de estimação, mas são tratados como seres com vida e com sentimentos próprios de cada um. Merecem uma vida que tenha intervalos de descanso e ter seu trabalho reconhecido. Pudemos ver a dedicação desses guerreiros de patas quando de nossa visita ao canil. Uma maravilha o que fazem.

Pra tudo que treinamos esperamos atuar ansiosamente, é  velha máxima de que a primeira a gente nunca esquece.

Luiza também lembra da primeira vez que seu cão localizou entorpecente e a primeira vez que ele localizou um fugitivo na mata. Segundo ela, são lembranças memoráveis de que vale a pena treinar.

 “São ocorrências diferentes e que proporcionam sentimentos diferentes. A ocorrência de faro de entorpecentes é muito gratificante para o condutor de um cão, pois é muito difícil pois são muitos detalhes que devem ser observados no treinamento, ai quando o cão localiza em uma situação real você vê seu trabalho dando resultado e agora colhe os frutos. Já a ocorrência de busca e captura envolve mais emoção, pois você nunca sabe quando, como e se vai encontrar o fugitivo, então você entra numa espécie de jogo junto com seu cachorro, a guia que você conduz o cão te passa todos os sentimentos do cachorro e quando chega no objetivo é uma explosão de adrenalina e  felicidade, misturados, pois mais uma vez o resultado de todo treino e empenho deu certo. É extremamente gratificante a sensação de missão cumprida.

 Consegue sentir a adrenalina subir somente por esse relato?

 Ernest Hemingway disse que: ‘Não existe caçada como a caçada a um homem. Aqueles que caçaram homens armados por algum tempo e gostaram, nunca mais conseguiram se importar com mais nada na vida”. Eu consigo imaginar o que diz Luize pois já passei por essa situação.

 “Um policial que atua no canil é diferente de policiais de outras modalidades, que terminam seu serviço, entregam o que tem que entregar na reserva e vão pra casa. Não é que seja melhor ou pior, mas o nosso serviço não termina ao final de cada turno, pois o cão precisa de alimentação, precisa de água, de cuidados veterinários, necessidades fisiológicas e de serviço. O policial precisa proporcionar tudo isso ao cão, pois ele é de sua responsabilidade. Sem contar que o treino de um cão de trabalho nunca termina, sempre tem algo para melhorar. Por isso a escala do canil conta com algumas horas de treino. E na folga também é realizado manutenção dos treinos. Ou seja, temos uma rotina de trabalho e de folga, bastante comprometida com o treinamento e com o bem estar do cão”.

 São essas pessoas que se dedicam todos os dias em fazer melhor que  trabalham na PMSC e em todas as policiais no Brasil. Se um dia puder, tente imaginar como sua vida funciona e porque consegue sair de casa, fazer suas tarefas sem ter inúmeras preocupações. Penso que deve ser ao fato de que pessoas dedicadas estão lá te protegendo e você absorto nos seus afazeres nem se dá conta. Algo como o vídeo abaixo.

 

 “Quando vou para o combate, acredito que como todos que se encontram nessa situação, não penso em nada. Apenas em querer resolver a situação que se apresentou no momento. Afinal, no tempo que a gente está vivendo, de uma quase completa inversão de valores, onde os policiais são considerados marginais, acho que nenhum policial arriscaria nada se fosse pensar e levar em consideração como são tratados por muitas pessoas. Nós também temos família, temos alguém nos esperando depois do trabalho. A gente também sente fome, sede, frio, calor, medo. Mas parece que algumas pessoas e a mídia, nos veem como robôs, que não podem errar nunca. Isso é uma visão completamente equivocada. Somos pessoas como qualquer outra, que tem família e sentimentos. Nossa única diferença é que escolhemos vestir uma farda e lutar pelo que muitos já deixaram de acreditar e fazemos isso todos os dias.”

 Nós acreditamos Luize. Nós abemos pelo que passa e agradecemos imensamente por tudo que faz por todos nós. É por isso que sempre procuramos produzir equipamentos melhores. Para que seu trabalho possa ser feito de maneira mais confortável. Nós nos orgulhamos da nossa polícia e sabemos que é a última fronteira, que é a último muro entre o lobos e nós. Queremos viver para um dia ver cada policial encontrado na rua ser agradecido por quem o vê, mas se isso não acontecer no Brasil como acontece no EUA, uma sociedade que aprendeu a ver o valor de quem dá sua vida em prol da maioria, continuaremos tentando.

 Obrigado pelo seu serviço.

Luize deixa um texto que representa o sentimento de todos os policiais como uma reflexão:

Não há missão tão árdua, atividade tão desprezada. Não há função tão incompreendida, encargo tão injusto. Não há caminho tão tortuoso, comportamento tão cobrado. Não há luta tão difícil, situação tão vulnerável.  Não há glória tão esquecida, habilidade tão castigada. Não há profissão tão discutida quanto SER POLÍCIA

...Ser Polícia é manter a Ordem Pública e garantir a Segurança da Sociedade em detrimento da sua própria segurança. 
...Ser Polícia é proteger o povo analisando e vigiando todos os lados, sabendo que também está sendo vigiado. 
...Ser Polícia é estar em constante perigo e mesmo assim evitar ou solucionar crimes. 
...Ser Polícia é sentir que a Sociedade o tem como ignorante e arbitrário e mesmo assim garantir o seu bem estar. (...)
...Ser Polícia é trabalhar reconhecendo que não é reconhecido, mas mesmo assim seguir na sua trajetória inglória. 
...Ser Polícia é superar o desprestígio de todos com a arte de mostrar a alegria pelo seu trabalho. 
...Ser Polícia é saber dar a devida dimensão de tudo em vez de ser dimensionado pelo que pensam a seu respeito. 
...Ser Polícia é saber que a verdade pode estar além de qualquer realismo para não confundir a aparência das coisas e praticar o injusto. 

...Ser Polícia é ser taxado de culpado até mesmo pelo bem que não pôde fazer. 

...Ser Polícia é entender que o povo pode ser ilógico e insensato até mesmo com os seus atos positivos em prol da própria Sociedade. 
...Ser Polícia é dar ao mundo o que de melhor tiver, mas mesmo assim observar que não acharam bastante. 
...Ser Polícia é estar no nascedouro de um futuro Processo Criminal contra a impunidade, e por vezes sentir o desgosto de ver o seu trabalho ser desconsiderado. 
...Ser Polícia é estar atento a tudo, porque todos estão preparados para lhe atirar pedras até mesmo no seu primeiro deslize. 
...Ser Polícia é constatar que os Direitos Humanos não lhe percebem nem mesmo quando um bandido lhe ceifa a vida. 
...Ser Polícia é lutar sempre pelos seus ideais e objetivos, acreditando que um dia será reconhecido, recompensado e adorado por todos, pois sem ele, não haveria a Justiça e a paz social. 
...Ser Polícia é vivenciar tudo isso e ainda possuir a sensatez de sentir o imenso orgulho de SER POLÍCIA!

(Por Archimedes Jose Melo Marques)

 Nosso agradecimento ao 14 Batalhão de Policia Militar que nos recebeu de portas abertas para essa visita, as grandes guerreiros do Canil em especial ao CB Mann, CB Cattoni, e todos os outros que fazem dessa equipe o que ela é. A equipe WARFARE e WTM tem orgulho do trabalho que desempenham e agradece toda a experiencia nos passada.

A Luize nossa que se prontificou a responder nossas perguntas, nosso muito obrigado. Foi uma satisfação conhece rum pouco de sua história.

Ao fotógrafo Giovani Silva responsável por todas essas belas imagens.

Força honra e destemor, para que os outros possam viver.

Assista a um treinamento do canil:

Obrigado pelo seu serviço
Escrito por Samuel Formneto

CEO Warfare - Live By The Code - Ex Policial Militar - Ex Militar exercito - Um sobrevivente como você.

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